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março 01, 2013

Aprendizagem do Vocabulário


Um Bicho de Sete Cabeças?



 

A comunicação é um processo que exige dos interlocutores o domínio de um conjunto de palavras. Quer seja oral e/ou escrita, a intercomunicação dependerá muito do grau de conhecimento, de uso, e de domínio do vocabulário.

Como conjunto de palavras de uma língua, aquelas usadas ou reconhecidas no dia-a-dia, o vocabulário torna-se assim imprescindível para a comunicação.

Uma breve análise histórica demonstra-nos as várias etapas da evolução dos métodos usados para o ensino do vocabulário: na Abordagem Áudio–lingual, o vocabulário era ensinado como suporte para a aprendizagem da gramática (Larsen-Freeman, 1986). O mesmo não aconteceu no Método de Tradução e Gramática (Zimmerman, 1997), pois neste a ênfase era o ensino do vocabulário comum, quotidiano, e a leitura de textos literários.

Mais recentemente, estudiosos da Linguística Aplicada advogaram a aprendizagem do vocabulário de forma ocasional, sem métodos explícitos, foram os casos de Krashen, (1989, 1993), Nagy, Herman & Anderson (1985) e Allen (1983) de um lado, e do outro, Coady, (1997); Carrell, Devine & Eskey, (1988); Dubin, Eskey & Grabe, (1986); Huckin & Bloch (1993) entendiam que se deve ensinar o vocabulário de forma explícita, sistemática, estruturada e dentro de um contexto.

Outras abordagens olham ainda para a instrução através do uso do dicionário, Bensoussan, (1983); Luppescu & Day, (1993); Nesi & Meara, (1994) e Grabe & Stoller, (1997) assim como o ensino explícito das estratégias para aquisição de vocabulário (Oxford & Scarcella, 1994); O’Malley & Chamot, (1990) como forma eficaz para a sua aprendizagem.

Actualmente, defende-se o ensino do vocabulário colocando à disposição do aprendente os vários métodos contemporâneos, e dando-lhe a possibilidade de escolher o(s) que melhor corresponde(m) à sua necessidade. Consideram-se nomeadamente pressupostos como: o tipo de tarefa a dar ao aprendiz; o estádio em que este se encontra no processo de aprendizagem da língua; a idade; o contexto situacional; os estilos de aprendizagem em que se enquadra e, ainda, as diferenças culturais e de estilos de aprendizagem cognitiva, como se refere também Rubin (1975).

Entendemos ser vantajoso esse modo ecléctico de actuação, por colocar o aluno no centro do processo de ensino-aprendizagem, e fazê-lo partícipe activo na construção do seu próprio conhecimento. Porém, advogamos por um lado que sejam, antes de tudo, explicitados os métodos desconhecidos, suas particularidades e focos de desenvolvimento, pois só o conhecimento prévio das várias opções dará ao aluno a possibilidade de uma escolha favorável.

Por outro lado, auguramos que o ensino-aprendizagem do vocabulário através do dicionário não seja o da tradução literal, mas que sirva de recurso facilitador na apreensão de significados de palavras desconhecidas, através da contextualização discursiva, ou seja, do ensino do vocabulário como rede de palavras associadas à unidade e coesão textual.

Para o caso da 7ª classe parece-nos já possível admitir que o aluno possa escolher a melhor abordagem para as suas necessidades de aprendizagem. Por isso, o PPLS lança-se ao desafio de levar o aluno a apreender criticamente o significado e a intencionalidade de mensagens veiculadas em discursos variados[1], através dos recursos colocados à sua disposição.

Esse objectivo, pensamos, sustenta-se nos conhecimentos prévios e conduz o aluno a aprendizagens mais aprofundadas do vocabulário no âmbito do significado e da intenção discursiva.

Ora o significado e a intenção estão intrinsecamente ligados às palavras que compõem as frases. Contudo, as palavras só terão valor interpretativo dentro do seu contexto espacial, temporal e sócio-interactivo em que acorrem. Por isso refractar o ensino do vocabulário dentro destas balizas, é mecanizá-lo, é superficialidade fortuita.
Neste prisma, depreendemos que o recurso a todas as Abordagens para o ensino do vocabulário pode ser perigosa para quem deve aprender o significado e a intenção veiculados em discursos variados.

Com esta visão, analisamos as metodologias, estratégias e exemplos sugeridos pelo PPLS para cumprir o objectivo predisposto, visualizando o quadro abaixo:

Quadro 5: O vocabulário no PPLS 7ª classe Reforma Educativa Angola


Tipo de texto

Objectivo

Metodologia

Estratégia

Exemplo


Narrativo

Apreender criticamente o significado e a intencionalidade de mensagens veiculadas em discursos variados.

Expositiva

Participativa

- Funcionamento da língua[2]

Localizar palavras no dicionário;
- Sinonímia
- Semântica (explica o sentido das expressões).


Descritivo


Ibidem


Ibidem


Ibidem
- Dicionário (distingue o significado da palavra).

Injuntivo

Ibidem

Ibidem

Ibidem

Não sugerido

Informativo

Ibidem

Ibidem

Ibidem


Ibidem

Poético

Ibidem


Ibidem

Ibidem

Ibidem

Da leitura e análise do Quadro verificamos o emprego de dois métodos: o participativo e o expositivo com recurso à sinonímia, ao dicionário e a outros exercícios como: a) explica o sentido das expressões; b) para saberes o seu significado, indica para cada uma a palavra que deves procurar no dicionário, c) indica os sinónimos[3].

Essas duas propostas metodológicas e estratégicas do Programa têm as suas vantagens e desvantagens dentro do contexto de ensino do PLLS na 7ª classe em Angola e dentro de compreensão e interpretação discursiva variadas.

Ora, conjecturamos que o método participativo pode ser vantajoso, na medida em que leva o aluno a participar activamente no processo de construção do seu próprio conhecimento. Porém não se aplica a todas as estratégias programáticas. Por exemplo, a consulta do dicionário pelo método participativo, pode descambar numa interpretação irreal, podendo conduzir o aluno a tradução literal. O mesmo pode acontecer com a sinonímia, já que será a partir de um dicionário através de associação de palavra próximas que o aprendente procurará encontrar o melhor significado para a palavra ou a frase que não perceba, por um lado. Por outro, devemos clarificar que uma coisa é o aluno dar o seu parecer voluntariamente mediante preocupações e matérias apresentadas pelo professor, outra é o professor indicar que o aluno faça uma tarefa mesmo contra a sua vontade: impor ao aluno a participação automática nas aulas, é pouco produtivo, ao passo que motivá-lo a participar voluntariamente é outra questão. Nesta vertente, sugerimos que sejam definidas as formas de participação, pois existem várias e nem todas se aplicam ao ensino do vocabulário para o caso específico de Angola. É por exemplo a consulta ao dicionário, sendo que poucos alunos sabem fazê-lo por si mesmos: porque nunca aprenderam e porque nas escolas e até mesmo em casa os dicionários geralmente são como oásis no deserto.

Quanto ao método expositivo, que não sirva apenas para ditado dos conteúdos mas que sirva também de momento e espaço de debate aberto sobre as questões do nosso vocabulário, muitas vezes distante do registo padrão, pelas especificidades sociolinguísticas.            
Chamamos a atenção do docente para, em primeiro lugar, analisar criticamente o material didáctico posto à sua disposição e, em segundo lugar, actuar sobre ele, quer inovando-o, quer respeitando as sugestões de trabalho que facilitem e promovam a aprendizagem do vocabulário. Caber-lhe-á ainda diversificar as ferramentas de actividades, claro, certificando-se de que: a) compreende os objectivos e metas do ensino do vocabulário da 7ª classe; b) conhece o tipo de auxílio vocabular mais favorável aos seus alunos; c) conhece um conjunto de estratégias entre as quais possa fazer sua escolha e por fim, d) precisa criar uma tabela na qual registará o desenvolvimento do vocabulário de cada aluno.

O reforço do plano de leitura deverá igualmente constituir apanágio para o ensino-aprendizagem do vocabulário pois leituras exaustivas e intensivas favorecem a aquisição de bom arcaboiço vocabular, dado como advoga Chagas (1979: 160) estudar o vocabulário de uma língua, longe de consistir unicamente em dar novos símbolos a coisas conhecidas, é principalmente receber, com as palavras o que há de comum nas “ideias – crenças” que envolvem, vitalizam e dão significado às coisas e aos factos no país onde se fala essa língua, e a interpretação e compreensão discursiva é colocada também nestes termos para a 7ª classe.



[1] INIDE (2003) Programas do Ensino Secundário, 1º Ciclo, Língua Portuguesa 7ª classe. Angola.
[2] É uma secção do Manual do Professor com exemplos de como trabalhar o vocabulário.
[3] MESQUITA, Helena (2005). Língua Portuguesa, 7ªclasse, 1º Ciclo do Ensino Secundário, Manual do Professor. INIDE. Angola.