Uma comunidade

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Países separados e Unidos

janeiro 11, 2013

A escrita

Como ensiná- la melhor?
  


O conhecimento, domínio e uso da escrita é uma necessidade indispensável na sociedade letrada dos nossos dias. Não só por ser um meio de expressão estável, que nos dá acesso ao conhecimento milenar da sociedade adquirido através do tempo, mas também por ser considerada uma necessidade básica a ser satisfeita, logo depois de a criança aprender a andar e falar.  as crianças não ficam a espera de ter seis anos e uma professora a frente para começarem a reflectir sobre problemas  exactamente complexos, e nada impede que uma criança que  cresce numa cultura onde a escrita existe reflicta também a   cerca desse tipo particular de marcas. (Smith, 2003:22)    
                                            
A par disto podemos afirmar tal como David Diringer (1968:15) que sem a escrita, a cultura, definida como uma «inteligência transmissível», não existiria. A lei, a religião, o comércio, a poesia, a filosofia, e a história e todas aquelas actividades que dependem de um certo grau de permanência e transmissão seriam incalculavelmente restritas.                                                                                                                                             
A dimensão e importância da escrita obriga o seu ensino-aprendizagem em várias dimensões a constituir: uma actividade cognitiva; uma apropriação continuada de uma forma particular da linguagem e do seu uso; como um processo comunicativo, e por fim, como uma actividade contextualizada e intencional.

A escrita enquanto acto social deve ser vista também como uma actividade de resolução de problemas (Amor, 2006: 93) e nisto a escola deve assumir o seu papel explícita ou implicitamente para que o aluno aprenda a escrever.

O ensino-aprendizagem da escrita exige a definição de metodologias e estratégias, cujo fim seja a proficiência neste campo, entendida como a capacidade de produção de textos socialmente úteis dentro das balizas linguísticas e extra linguísticas.    

Para tal deve-se prestar maior atenção ao processo de aprendizagem do que aos produtos que os alunos realizam, como advogam também os paradigmas actuais de ensino.
Isto não significa que o produto não seja importante, porém a intervenção do professor deverá centrar-se no processo, por estar nele a fonte e a base segura para mudança que vá de acordo com o registo padrão como advoga Stroud (1997) na sua teoria geral de Língua Segunda.

Neste sentido, o desafio para Angola é duplo: por um lado deve adequar a sua escrita aos padrões da língua portuguesa de Portugal e, por outro, não deve abdicar das circunstâncias locais, neste caso as mais importantes para o ensino da escrita. Nesta complexidade, a experiência acumulada de docência confirmou os escritos da situação complexa sociolinguística e as múltiplas implicações no ensino da escrita: tendência em escrever conforme se fala; o desconhecimento das regras ortográficas e de sintaxe; a não correspondência, em alguns casos, entre o fonema e o grafema, a falta de incentivo pedagógico à promoção da escrita são, dentre muitos, os factores que impelem e convocam para um trabalho profundo e aturado, no campo do ensino da escrita em Angola.

Ultrapassar esses e outros obstáculos é o que se propõem as autoridades educativas de Angola com o projecto da 2ª Reforma.

Para a 7ª classe, o PPLS da 2ª Reforma, procura levar o aluno a aprofundar a prática da escrita, a partir de intenções variadas (p.6) e para tal aposta na metodologia participativa e expositiva. Observemos o quadro abaixo:

 Quadro 4: A escrita no PPLS 7ª classe Reforma Educativa Angola


Tipo de texto

Objectivo

Metodologia

Estratégia

Exemplo

Narrativo

Aprofundar a prática da escrita a partir de intenções variadas.

Expositiva

Participativa
- Aplicação correcta dos sinais de pontuação.
- Construção de frases simples e complexas

Não sugerido




Descritivo




Ibidem




Ibidem
 - Descrição escrita de ambientes, espaços físicos e pessoas.
- Redacção em grupo de diferentes textos descritivos.
- Redacção descritiva sobre o retrato psicológico de uma personagem.
- Sala de aula, recreio, quarto de dormir, casa, etc.
- Ementa imaginária de um restaurante; rótulo de um produto
- Personagem modelo e exemplar para os alunos.


Injuntivo



Ibidem


Ibidem

- Redacção de textos injuntivos.



- Regras dentro da sala de aulas; regulamento da escola; um produto ou serviço a partir de uma imagem

Informativo



Ibidem


Ibidem
- Redacção de pequenas notícias sobre a escola; cartas à colegas e professores, avisos e circulares.
- O quê? ; Quando? ; Onde? ; Como?, Porquê? 

Poético

Ibidem

Ibidem
- Criação de pequenas rimas a partir de palavras dadas pelo professor.

Não sugerido

A ideia segundo a qual os alunos da 7ª classe já possuem as noções básicas de escrita, sustenta, como se depreende, a metodologia participativa adoptada no PPLS em que o professor incentiva os alunos a construírem o seu próprio conhecimento autonomamente, com realização de redacção de diversos tipos de textos, não apenas com intuito formativo mas também socialmente útil.
                                                     
A metodologia expositiva sugerida para o ensino da escrita não vem explicitamente delineada como será usada, pelo que esperamos não servir apenas para o ditado de matéria mas, e sobretudo, para exercícios dialógicos, em que os alunos participam dos vários momentos da aula como: a explicitação de suas ideias; problematização; construção de argumentos e sistematização. 
                                                                     
Do quadro, aferimos ademais que as estratégias sugeridas para o aprofundamento das técnicas de escrita, se assemelham mais a objectivos secundários, do que propriamente à operacionalização do método. Assim, o que há a fazer está muito claro, mas o como fazer não é evidente. Isto pode dificultar o processo e os resultados da aprendizagem, pois os procedimentos metodológicos devem ser equiparados ao momento fundamental da transmissão e aquisição das novas aprendizagens. Situação semelhante verifica-se nos exemplos: são escassos, pobres e pouco diversificados, isto para além das omissões na tipologia narrativa e poética. 

A exemplificação e a operacionalização das estratégias demonstram o domínio do conteúdo pelos autores do Programa. Quando omissas, depreende-se que não o sabem, ou abrem espaços para intervenção criativa crítica do docente, o que raramente acontece. O mais evidente é saltar o conteúdo, ou ministrá-lo dentro das limitações do Programa e como é óbvio, as consequências são desastrosas: alunos em classes avançadas com dificuldades básicas de escrita e professores com longos anos de docência mas com pouco domínio do conteúdo e acomodados ao básico.   
                               
Na tipologia poética, nota-se ausência de uma estratégia para a produção deste tipo de texto, pois criar rimas, como se pede no PPLS, pode ser um bom início para o ensino da versificação, mas não para aprofundar a escrita de um texto poético.  

Sugerimos nesse caso que se parta da microestrutura textual para a macro, de modo a que se faça uma aprendizagem gradual e evolutiva, do simples ao complexo, como por exemplo partindo de textos não poéticos conhecidos e fazer um estudo comparativo: estrutura, conteúdo e forma.                                                                               
Para isso, as estratégias metacognitivas deviam ser mais, e melhor exploradas, como por exemplo pôr os alunos a escrever um texto narrativo e transformá-lo ou estudá-lo em comparação com um texto poético. Dessa iniciativa, detectam-se as diferenças intertextuais, e parte-se assim para a metodologia construtiva.                        
Para além disto, nota-se a inexistência do apelo às etapas de uma escrita orientada segundo padrões básicos como ensinar o aluno metodicamente: a) a saber planear a escrita; b) a realizar escolhas adequadas quanto ao vocabulário e à gramática e c) a adquirir capacidades de rever e reelaborar a própria escrita, segundo critérios adequados aos objectivos, ao destinatário e ao contexto de circulação do próprio texto. Outrossim as estratégias preventivas e correctivas do “erro” estão omissas no PPLS. Esqueceu-se por completo a questão das interferências das línguas locais no português escrito em Angola.                                                                                                      
Orientar a escrita é levar o aluno, neste caso autor do texto, a pensar na pertinência dos dados com que lida, na coerência, na correcção gramatical, na propriedade vocabular – exigências já possíveis neste nível de escolaridade.  
                     
Para tanto, necessário se torna propiciar condições de aprendizagem adequadas. Isto obriga à partida a mobilização de meios didácticos e de estratégias adaptadas ao desenvolvimento desta competência fundamental. Por isso, é importante que o professor permanentemente questione os seus materiais e os seus métodos, caminhando para uma integração entre o processo de ensino-aprendizagem da escrita e a eficiência desta.          

Portanto, o respeito pelas sugestões metodológicas apresentadas pelo PPLS é importante, mas enriquecê-las é muito mais gratificante, para um professor que preze o profissionalismo, auto superação e espírito crítico. A escrita é mais rigorosa do que a fala por exigir conhecimentos compósitos: podem “admitir-se” erros de pronúncia, mas de letra/escrita não, e para o caso de Angola, é fundamental, claro, salvaguardando as devidas objecções.


Bibliografia 


AMOR, Emília. (2006) Didáctica do Português, Fundamentos e Metodologia. Texto editora, 6ª Edição, Lisboa.


BARBEIRO, L. F. (1999) Os Alunos e a Expressão Escrita: Consciência Metalinguística e a Expressão. Fundação Calouste Gulbenkian. Lisboa.


___________ (2003) Escrita: Construir a Aprendizagem. Universidade do Minho, Braga.


 BARROS, Agnela. (2002) A Situação do Português em Angola. In Uma Política de Língua para o Português, ed. Maria Helena Mira Mateus. Edições Colibri, Lisboa.



 DIRINGER, David. (1968) A Escrita. Editorial Verbo, Lisboa.

DUARTE, I. M. (1994) O Oral no Escrito: Abordagem Pedagógica. In Fonseca, F. I. (org.). Pedagogia da Escrita. Perspectivas. Porto, Porto Editora.



janeiro 10, 2013

O Nosso Desafio em 2013

A LINGUA, CULTURA E LITERATURA





 O tratamento multi e a transdisciplinar têm sido preocupação do nosso blogue. Nesta óptica, auguramos no presente ano, inserir e tratar com o devido rigor, questões sobre a literatura angolana e de forma geral dos países de língua portuguesa.

Obviamente não abdicaremos das demais temáticas: didáctica da língua portuguesa, cultura dos países de língua portuguesa, ensino da língua portuguesa como segunda e estrangeira que são também nossas preocupações.

Assim, esperamos maior e melhor interacção com os nossos leitores, sempre na perspectiva critico-construtiva.

Obrigado pela atenção