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dezembro 11, 2012

Ensino da Leitura

No Programa de L.P da 7ª classe em Angola



 


A leitura é, nos nossos dias, mais do que um mero acto de transformar as letras em sons. Deixou de ser também um acto de ensino mecânico, ritualístico e de costume passivo, à imagem de o magíster dixit da escola clássica.

Ler hoje significa extrapolar, pois enquanto acto e processo dialógico, subjaz à ideia interpretativa, transformativa e de análise crítica do mundo.

Como actividade social, importa que o seu ensino-aprendizagem seja significativo, produtivo, desafiador, e feito a partir de textos socialmente úteis, como referem Foucambert (1994), Smith (1999) e Solé (1998) reforçando a ideia de que ler pressupõe actuar, reagir, através da reflexão e questionamento do que se lê.

A escola actual não se afasta deste paradigma, por isso propõe-se formar sujeitos-leitores críticos, capazes de ler nas entrelinhas e de assumir uma posição própria frente à proposta explícita ou implicitamente pelo texto.

Transformar a leitura de obrigação escolar, em leitura prazerosa, benévola, e de um exercício para o longo de toda a vida, é um desafio ecléctico, que exige da escola escolhas metodológicas e didácticas eficazes, adequadas e aptas a tornar o aluno leitor proficiente.

Neste desafio, lança-se também o PPLS da 7ª classe que se propõe desenvolver no aluno a  
sensibilidade, criatividade e apreço pela leitura,  através do contacto  com vários tipos de textos e géneros literários, bem como o gosto pela criação de textos como forma de personalização e comunicação com os outros[1].
           
As premissas para a consecução deste objectivo, pensamos já estarem criadas a partir do momento em que os alunos transitam para a 7ª classe.

Com este pressuposto, o desafio agora é pô-los a ler melhor, e criar neles o apetite pela leitura, não apenas no ciclo escolar, mas também, extra-escolar.

Contudo, questionamos: como é feita a transposição metodológica deste objectivo para o Programa, e deste para a sala de aulas?

Verifiquemos o quadro baseado no PPLS da 7ª classe e procuremos respostas, a esta e outras inquietações.



Quadro 3: A leitura no PPLS 7ª classe Reforma Educativa Angola


Tipo de texto

Objectivo

Metodologia

Estratégia

Exemplo

Narrativo

Leitura autónoma e interpretação de textos.

Expositiva
Participativa

Leitura orientada, leitura extensiva.
O quê?
Quem?
Como?
Porquê?
Quando? Onde?

Descritivo

Ibidem

Ibidem

Leitura orientada

 Não sugerido

Injuntivo


Ibidem

Ibidem

Ibidem

Não sugerido

Informativo


Ibidem

Ibidem

Ibidem

Não sugerido

Poético

Ibidem

Ibidem
Leitura orientada de textos, declamação de poesias seleccionadas.


Não sugerido




Da leitura e análise do quadro fica clara a existência de uma metodologia e estratégias biformes em todas as tipologias textuais.


A literatura especializada advoga que a leitura e interpretação textual orientadas surtem efeitos, sobretudo no início do processo de aprendizagem da leitura, mas já neste nível de escolaridade, 7ªclasse, um distanciamento do professor ao aluno é importante. Não só como forma de estimular o crescimento e independência intelectual, mas também para prepará-lo para os desafios da leitura em cenários em que o professor esteja ausente.

A auto-monitorização consciente e deliberada do antes, durante e pós leitura, e o ensino explícito das estratégias de leitura e interpretação textuais, exigem explicar, demonstrar e providenciar práticas do uso das estratégias para o aprovisionamento das capacidades do aluno nesta matéria.

A partir do quadro, visualizamos que os exemplos de operacionalização das estratégias são escassos, o que constitui uma abertura clara para o despiste de professores pouco capacitados e criatividade para os mais dotados.

De facto, é aceitável que se respeitem e cumpram as orientações emanadas do PPLS, porém com olhos clínicos e pensamento crítico. Para cada tipologia textual exigem-se metodologias e estratégias diferentes, dadas as especificidades textuais.

Do quadro deduzimos ainda que a demostração feita no texto narrativo é um exemplo de uma interpretação e respostas localizadas mecanizadas, e não de busca e incentivo ao raciocínio independente do aluno. Concordamos que podem ser os passos iniciais para a leitura e interpretação desse tipo de texto mas devia-se passar dessa dicotomia para as estratégias de exploração de significados mais aprofundados do texto - subjacente ou explícito - através da discussão colectiva como também aconselha Inês (2008:38).

Em suma, o Programa aposta em força na metodologia de leitura orientada, sob forte vigilância do professor, depreendendo-se daqui a ideia de uma acção mecânica e quase coerciva da aprendizagem da leitura, o que é pouco plausível para aprendizagem da leitura.



 Bibliografia


FOUCAMBERT, J. (1994) A Leitura em Questão. Artes, Porto Alegre.

O'MALLEY, J. M.; CHAMOT, A. U. (1990) Learning Strategies in Second Language Acquisition. Cambridge Univ. Press. New York. 

OXFORD, R. L. (1994). Language Learning Strategies: What Every Teacher Should Know. Hinle & Heinle, Boston.


REBELO, J. A. (1993) Dificuldades da Leitura e da Escrita em Alunos do Ensino Básico. Edições Asa, Lisboa.

SIM-SIM, Inês. (2008) O Ensino da Leitura: A Compreensão de Textos. Programa Nacional de Ensino do Português. Ministério da Educação, Portugal

  
SMITH, F. (1999) Leitura Significativa. 3ªedição. Artmed, Porto Alegre.



SOLÉ, I. (1998) Estratégias de Leitura. 6ª edição: Artmed, Porto Alegre.




[1] INIDE (2003) Programas do Ensino Secundário, 1º Ciclo, Língua Portuguesa 7ª classe. Angola.