No Programa de L.P da 7ª classe em Angola
A leitura é,
nos nossos dias, mais do que um mero acto de transformar as letras em sons. Deixou
de ser também um acto de ensino mecânico, ritualístico e de costume passivo, à imagem
de o magíster dixit da escola clássica.
Ler hoje significa
extrapolar, pois enquanto acto e processo dialógico, subjaz à ideia
interpretativa, transformativa e de análise crítica do mundo.
Como
actividade social, importa que o seu ensino-aprendizagem seja significativo,
produtivo, desafiador, e feito a partir de textos socialmente úteis, como referem
Foucambert (1994), Smith (1999) e Solé (1998) reforçando a ideia de que ler pressupõe
actuar, reagir, através da reflexão e questionamento do que se lê.
A escola
actual não se afasta deste paradigma, por isso propõe-se formar
sujeitos-leitores críticos, capazes de ler nas entrelinhas e de assumir uma
posição própria frente à proposta explícita ou
implicitamente pelo texto.
Transformar
a leitura de obrigação escolar, em leitura prazerosa, benévola, e de um exercício
para o longo de toda a vida, é um desafio ecléctico, que exige da escola escolhas metodológicas e didácticas eficazes,
adequadas e aptas a tornar o aluno leitor proficiente.
Neste
desafio, lança-se também o PPLS da 7ª classe que se propõe desenvolver no aluno
a
sensibilidade, criatividade e apreço
pela leitura, através do contacto com vários tipos de textos e géneros
literários, bem como o gosto pela criação de textos como forma de
personalização e comunicação com os outros[1].
As premissas
para a consecução deste objectivo, pensamos já estarem criadas a partir do
momento em que os alunos transitam para a 7ª classe.
Com este
pressuposto, o desafio agora é pô-los a ler melhor, e criar neles o apetite
pela leitura, não apenas no ciclo escolar, mas também, extra-escolar.
Contudo, questionamos:
como é feita a transposição metodológica deste
objectivo para o Programa, e deste para a sala de aulas?
Verifiquemos
o quadro baseado no PPLS da 7ª classe e procuremos respostas, a esta e outras
inquietações.
Quadro 3: A
leitura no PPLS 7ª classe Reforma Educativa Angola
Tipo de texto
|
Objectivo
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Metodologia
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Estratégia
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Exemplo
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Narrativo
|
Leitura
autónoma e interpretação de textos.
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Expositiva
Participativa
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Leitura
orientada, leitura extensiva.
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O quê?
Quem?
Como?
Porquê?
Quando?
Onde?
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Descritivo
|
Ibidem
|
Ibidem
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Leitura
orientada
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Não sugerido
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Injuntivo
|
Ibidem
|
Ibidem
|
Ibidem
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Não
sugerido
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Informativo
|
Ibidem
|
Ibidem
|
Ibidem
|
Não
sugerido
|
Poético
|
Ibidem
|
Ibidem
|
Leitura
orientada de textos, declamação de poesias seleccionadas.
|
Não
sugerido
|
Da leitura e
análise do quadro fica clara a existência de
uma metodologia e estratégias biformes em todas as tipologias textuais.
A literatura
especializada advoga que a leitura e interpretação textual orientadas surtem
efeitos, sobretudo no início do processo de
aprendizagem da leitura, mas já neste nível de escolaridade, 7ªclasse,
um distanciamento do professor ao aluno é importante. Não só como forma de
estimular o crescimento e independência intelectual, mas também para prepará-lo
para os desafios da leitura em cenários em que o professor esteja ausente.
A
auto-monitorização consciente e deliberada do antes, durante e pós leitura, e o
ensino explícito das estratégias de leitura e interpretação textuais, exigem
explicar, demonstrar e providenciar práticas do uso das estratégias para o
aprovisionamento das capacidades do aluno nesta matéria.
A partir do quadro, visualizamos que os exemplos de
operacionalização das estratégias são escassos, o que constitui uma abertura
clara para o despiste de professores pouco capacitados e criatividade para os
mais dotados.
De facto, é
aceitável que se respeitem e cumpram as orientações emanadas do PPLS, porém com
olhos clínicos e pensamento crítico. Para cada
tipologia textual exigem-se metodologias e estratégias diferentes, dadas as
especificidades textuais.
Do quadro
deduzimos ainda que a demostração feita no texto narrativo é um exemplo de uma
interpretação e respostas localizadas mecanizadas, e não de busca e incentivo
ao raciocínio independente do aluno. Concordamos que podem ser os passos
iniciais para a leitura e interpretação desse tipo de texto mas devia-se passar
dessa dicotomia para as estratégias de exploração de significados mais
aprofundados do texto - subjacente ou explícito - através da discussão
colectiva como também aconselha Inês (2008:38).
Em suma, o Programa aposta em força na
metodologia de leitura orientada, sob forte vigilância do professor,
depreendendo-se daqui a ideia de uma acção mecânica e quase coerciva da
aprendizagem da leitura, o que
é pouco plausível para aprendizagem da leitura.
Bibliografia
FOUCAMBERT, J. (1994) A Leitura em Questão. Artes, Porto Alegre.
O'MALLEY, J.
M.; CHAMOT, A. U. (1990) Learning
Strategies in Second Language Acquisition. Cambridge Univ. Press. New
York.
OXFORD, R. L.
(1994). Language Learning
Strategies: What Every Teacher Should Know. Hinle & Heinle, Boston.
REBELO, J. A.
(1993) Dificuldades da Leitura e da Escrita em Alunos do Ensino Básico.
Edições Asa, Lisboa.
SIM-SIM, Inês. (2008) O Ensino da Leitura: A Compreensão de Textos. Programa Nacional de Ensino
do Português. Ministério da Educação, Portugal
SMITH, F. (1999) Leitura Significativa. 3ªedição. Artmed, Porto Alegre.
SOLÉ,
I. (1998) Estratégias de Leitura. 6ª edição:
Artmed, Porto Alegre.