Um Bicho de Sete Cabeças?
A comunicação é
um processo que exige dos interlocutores o domínio de um conjunto de palavras.
Quer seja oral e/ou escrita, a intercomunicação dependerá muito do grau de
conhecimento, de uso, e de domínio do vocabulário.
Como conjunto de
palavras de uma língua, aquelas usadas ou reconhecidas no dia-a-dia, o
vocabulário torna-se assim imprescindível para a comunicação.
Uma
breve análise histórica demonstra-nos as várias etapas da evolução dos métodos
usados para o ensino do vocabulário: na Abordagem Áudio–lingual, o vocabulário
era ensinado como suporte para a aprendizagem da gramática (Larsen-Freeman,
1986). O mesmo não aconteceu no Método de Tradução e Gramática (Zimmerman,
1997), pois neste a ênfase era o ensino do vocabulário comum, quotidiano, e a
leitura de textos literários.
Mais recentemente,
estudiosos da Linguística Aplicada advogaram a aprendizagem do vocabulário de
forma ocasional, sem métodos explícitos, foram
os casos de Krashen, (1989, 1993), Nagy, Herman & Anderson (1985) e
Allen (1983) de um lado, e do outro, Coady, (1997); Carrell, Devine &
Eskey, (1988); Dubin, Eskey & Grabe, (1986); Huckin & Bloch (1993) entendiam que se deve ensinar o vocabulário de forma
explícita, sistemática, estruturada e dentro de um contexto.
Outras abordagens olham
ainda para a instrução através do uso do
dicionário, Bensoussan, (1983); Luppescu &
Day, (1993); Nesi
& Meara, (1994) e Grabe & Stoller,
(1997) assim como o ensino explícito das estratégias para aquisição de
vocabulário (Oxford & Scarcella, 1994); O’Malley
& Chamot, (1990) como forma eficaz para a sua aprendizagem.
Actualmente,
defende-se o ensino do vocabulário colocando à disposição do aprendente os
vários métodos contemporâneos, e dando-lhe a possibilidade de escolher o(s) que
melhor corresponde(m) à sua necessidade. Consideram-se nomeadamente
pressupostos como: o tipo de tarefa a dar ao aprendiz; o estádio em que este se
encontra no processo de aprendizagem da língua; a idade; o contexto
situacional; os estilos de aprendizagem em que se enquadra e, ainda, as
diferenças culturais e de estilos de aprendizagem cognitiva, como se refere
também Rubin (1975).
Entendemos
ser vantajoso esse modo ecléctico de actuação, por colocar o aluno no centro do
processo de ensino-aprendizagem, e fazê-lo partícipe activo na construção do
seu próprio conhecimento. Porém, advogamos por um lado que sejam, antes de
tudo, explicitados os métodos desconhecidos, suas particularidades e focos de
desenvolvimento, pois só o conhecimento prévio das várias opções dará ao aluno
a possibilidade de uma escolha favorável.
Por
outro lado, auguramos que o ensino-aprendizagem do vocabulário através do dicionário
não seja o da tradução literal, mas que sirva de recurso facilitador na
apreensão de significados de palavras desconhecidas, através da
contextualização discursiva, ou seja, do ensino do vocabulário como rede de
palavras associadas à unidade e coesão textual.
Para
o caso da 7ª classe parece-nos já possível admitir que o aluno possa escolher a melhor
abordagem para as suas necessidades de aprendizagem. Por isso, o PPLS lança-se
ao desafio de levar o aluno a apreender criticamente o
significado e a intencionalidade de mensagens veiculadas em discursos variados[1], através
dos recursos colocados à sua disposição.
Esse
objectivo, pensamos, sustenta-se nos conhecimentos prévios e conduz o aluno a
aprendizagens mais aprofundadas do vocabulário no âmbito do significado e da
intenção discursiva.
Ora
o significado e a intenção estão intrinsecamente ligados às palavras que
compõem as frases. Contudo, as palavras só terão valor interpretativo dentro do
seu contexto espacial, temporal e sócio-interactivo em que acorrem. Por isso
refractar o ensino do vocabulário dentro destas balizas, é mecanizá-lo, é
superficialidade fortuita.
Neste
prisma, depreendemos que o recurso a todas as Abordagens para o ensino do
vocabulário pode ser perigosa para quem deve aprender o significado e a
intenção veiculados em discursos variados.
Com esta visão, analisamos as metodologias, estratégias e exemplos
sugeridos pelo PPLS para cumprir o objectivo predisposto, visualizando o quadro
abaixo:
Quadro 5:
O vocabulário no PPLS 7ª classe Reforma Educativa Angola
Tipo de texto
|
Objectivo
|
Metodologia
|
Estratégia
|
Exemplo
|
Narrativo
|
Apreender criticamente o significado e a
intencionalidade de mensagens veiculadas em discursos variados.
|
Expositiva
Participativa
|
- Funcionamento da língua[2]
|
Localizar palavras no dicionário;
- Sinonímia
- Semântica (explica o sentido das expressões).
|
Descritivo
|
Ibidem
|
Ibidem
|
Ibidem
|
- Dicionário (distingue o significado da
palavra).
|
Injuntivo
|
Ibidem
|
Ibidem
|
Ibidem
|
Não sugerido
|
Informativo
|
Ibidem
|
Ibidem
|
Ibidem
|
Ibidem
|
Poético
|
Ibidem
|
Ibidem
|
Ibidem
|
Ibidem
|
Da leitura e análise do Quadro verificamos o emprego
de dois métodos: o participativo e o expositivo com recurso à sinonímia, ao
dicionário e a outros exercícios como: a) explica o sentido
das expressões; b) para saberes o seu significado, indica para cada
uma a palavra que deves procurar no dicionário, c) indica os sinónimos[3].
Essas duas propostas metodológicas e estratégicas do
Programa têm as suas vantagens e desvantagens dentro do contexto de ensino do
PLLS na 7ª classe em Angola e dentro de compreensão e interpretação discursiva
variadas.
Ora, conjecturamos que o método participativo pode ser
vantajoso, na medida em que leva o aluno a participar activamente no processo
de construção do seu próprio conhecimento. Porém não
se aplica a todas as estratégias programáticas. Por exemplo, a consulta do
dicionário pelo método participativo, pode descambar numa interpretação irreal,
podendo conduzir o aluno a tradução literal. O mesmo pode acontecer com a
sinonímia, já que será a partir de um dicionário através
de associação de palavra próximas que o aprendente procurará encontrar o melhor
significado para a palavra ou a frase que não perceba, por um lado. Por outro,
devemos clarificar que uma coisa é o aluno dar o seu parecer voluntariamente
mediante preocupações e matérias apresentadas pelo professor, outra é o
professor indicar que o aluno faça uma tarefa mesmo contra a sua vontade: impor ao aluno a participação automática nas aulas, é
pouco produtivo, ao passo que motivá-lo a participar voluntariamente é outra
questão. Nesta vertente, sugerimos que sejam
definidas as formas de participação, pois existem várias e nem todas se aplicam ao
ensino do vocabulário para o caso específico de Angola. É por exemplo a consulta
ao dicionário, sendo que poucos alunos sabem fazê-lo por si mesmos: porque
nunca aprenderam e porque nas escolas e até mesmo em casa os dicionários
geralmente são como oásis no deserto.
Quanto ao método expositivo, que não sirva apenas para
ditado dos conteúdos mas que sirva também de momento e espaço de debate aberto
sobre as questões do nosso vocabulário, muitas vezes distante do registo
padrão, pelas especificidades sociolinguísticas.
Chamamos a atenção do
docente para, em primeiro lugar, analisar criticamente o material didáctico
posto à sua disposição e, em segundo lugar, actuar sobre ele, quer inovando-o,
quer respeitando as sugestões de trabalho que facilitem e promovam a
aprendizagem do vocabulário. Caber-lhe-á ainda diversificar as ferramentas de
actividades, claro, certificando-se de que: a)
compreende os objectivos e metas do ensino do vocabulário da 7ª classe; b)
conhece o tipo de auxílio vocabular mais favorável aos seus alunos; c) conhece
um conjunto de estratégias entre as quais possa fazer sua escolha e por fim, d)
precisa criar uma tabela na qual registará o desenvolvimento do vocabulário de
cada aluno.
O reforço do plano de leitura deverá igualmente
constituir apanágio para o ensino-aprendizagem
do vocabulário pois leituras exaustivas e intensivas favorecem a aquisição de
bom arcaboiço vocabular, dado como advoga Chagas (1979: 160) estudar o
vocabulário de uma língua, longe de consistir unicamente em dar novos símbolos
a coisas conhecidas, é principalmente receber, com as palavras o que há de
comum nas “ideias – crenças” que envolvem, vitalizam e dão significado às
coisas e aos factos no país onde se fala essa língua, e a interpretação e
compreensão discursiva é colocada também nestes termos para
a 7ª classe.
[1] INIDE (2003) Programas do Ensino Secundário, 1º Ciclo,
Língua Portuguesa 7ª classe. Angola.
[2] É uma secção do
Manual do Professor com exemplos de como trabalhar o vocabulário.
[3] MESQUITA, Helena
(2005). Língua Portuguesa, 7ªclasse, 1º
Ciclo do Ensino Secundário, Manual do Professor. INIDE. Angola.